Páginas

A proclamação da República Portuguesa

A proclamação da República Portuguesa

sábado, 24 de julho de 2010

RAZÕES QUE CONTRIBUÍRAM PARA A MUDANÇA DE REGIME POLÍTICO

Comemora-se no próximo dia 5 de Outubro de 1910 o 1º centenário da República em Portugal. Muitos foram os factores que, cumulativamente, contribuíram para a queda da monarquia nesse dia histórico. Entre eles poderemos mencionar:
  • O crescimento do Partido Republicano - sustentado num sábio aproveitamento dos desaires da monarquia - por via da propaganda na imprensa, de uma colagem aos festejos populares em memória de figuras simbólicas nacionais, como foi o caso das comemorações do tricentenário da morte de Camões (1880), do centenário da morte de Marquês de Pombal (1882) e do 7º de Santo António (1894) em Lisboa e, ainda, do aproveitamento político dos escândalos que marcaram os últimos tempos da monarquia, como os monopólios do tabaco e dos fósforos e da “questão dos adiantamentos” à família real.
  • O Ultimato inglês de 1890, gerou uma onda de protestos e revolta contra os ingleses e foi visto como um sinal de fraqueza do rei D. Carlos I por ceder aos interesses do nosso mais antigo aliado e inviabilizou a concretização do projecto colonial português, expresso no chamado Mapa Cor-de-rosa. Foi no rescaldo dos protestos contra a Inglaterra que se lançou a “Grande subscrição nacional”, destinada a recolher fundos para a aquisição de navios de guerra para a Marinha portuguesa.

Recibo da Grande Subscrição Nacional



Foi ainda neste contexto, que Henrique Lopes Mendonça compôs a letra da canção patriótica "A Portuguesa" onde apela a “marchar contra os canhões” dos ingleses, que seria musicada por Alfredo Keil. "A Portuguesa", foi apropriada pelos republicanos e tornou-se hino nacional em Junho de 1911.





  • A revolta do 31 de Janeiro, no Porto, em 1891, considerada a primeira tentativa para derrubar o regime.
  • A instabilidade política decorrente do desgaste do modelo rotativista (alternância no poder dos Partidos Regenerador e Progressista) vigente desde o período da Regeneração, que motivava frequentes quedas dos governos;
  • A Ditadura de João Franco (1907-1908). Ao decretar o encerramento do Parlamento e a censura à imprensa, João Franco não conseguiu calar a oposição republicana antes contribuiu para um aumento da contestação à monarquia e empurrou-a para a desgraça como previu Júlio Vilhena, no Diário Popular, de 20 de Outubro: “Isto termina fatalmente por um crime ou por uma revolução”.
    A ditadura de João Franco, fomentou também a luta das organizações secretas, como a Carbonária, contra o regime monárquico.
  • O regicídio, a 1 de Fevereiro de 1908, de D. Carlos e do príncipe herdeiro, D. Luís Filipe, perpetrado por José dos Reis da Silva Buiça e Alfredo Luís da Costa.

O 5 DE OUTUBRO DE 1910

Lisboa e o Tejo serviram de palco à revolução de Outubro que deveria ser comandada por um militar, o almirante Cândido dos Reis, e um civil, Miguel Bombarda. Digo, deveria porque ambos acabaram por morrer não podendo, por isso, liderar os acontecimentos.
Os revoltosos saíram para a rua à 1 hora da madrugada de 4 de Outubro, a partir de dois pontos da cidade:
- Quartel de Marinheiros, em Alcântara
- Regimento de Infantaria 16, em Campo de Ourique.
Os militares do regimento de Infantaria 16, entre os quais se encontrava Machado dos Santos, dirigiram-se para o quartel do Regimento de Artilharia 1, onde eram aguardados por outros revolucionários em armas. As tropas dividiram-se em duas colunas, sob o comando dos capitães Sá Cardoso e Afonso Pala e seguiram, uma, para O Palácio das Necessidades, onde tinham por missão prender o rei D. Manuel II, e a outra, para o quartel da Guarda Municipal, no Carmo. Esses objectivos não foram, porém alcançados.
A não concretização dos objectivos por parte das duas colunas saídas de Artilharia 1 obrigou-as a retirar, tendo-se posteriormente juntado na rua S. João dos Bencasados, em Campo de Ourique. Dali partiram para a Rotunda, através da rua Alexandre Herculano, instalando-se no Parque Eduardo VII, onde aguardaram o ataque das forças monárquicas, formadas pela Guarda Municipal e pela Polícia e consideradas superiores à dos revolucionários em termos materiais e de efectivos.
Este desequilíbrio de forças foi contrabalançado pelo apoio activo do povo de Lisboa que se colocou ao lado dos revoltosos nos lugares mais decisivos. Na Rotunda, apoiou Machado dos Santos e inutilizou muitas tentativas monárquicas de ataque ao acampamento; em Alcântara, entrincheirou-se no quartel de Marinheiros e ali enfrentaram o ataque das forças monárquicas que guarneciam o Palácio Real das Necessidades. No Tejo, foi também um grupo de civis que colaborou com os republicanos no controlo dos navios de guerra “S. Rafael” e “Adamastor”, enquanto outro grupo colaborava no assalto ao cruzador “D. Carlos”, cujos militares viriam a aderir ao movimento na tarde de 4 de Outubro, após uma posição, inicialmente neutral.
Na madrugada de 5 de Outubro o apoio dos populares revelou-se mais uma vez decisivo, contribuindo quer para a desmoralização das forças monárquicas, quer para a frustração de várias tentativas de ataque ao acampamento da Rotunda, quer ainda para a retirada das forças monárquicas estacionadas no Rossio. Assim, perante a deserção dos oficiais de alta patente e de soldados do acampamento revolucionário da Rotunda, foi o povo que facilitou as comunicações e permaneceu ao lado de Machado dos Santos, considerado o protagonista da revolução.
Perante a vitória reconhecida dos republicanos em virtude do impasse militar, da desmoralização das tropas monárquicas e da hostilidade popular à monarquia, D. Manuel II e a família real (rainhas D. Amélia e D. Maria Pia e infante D. Afonso) partiram para o exílio, na praia da Ericeira, rumo a Gibraltar.
O Governo provisório, proclamado na manhã de 5 de Outubro de 1910, das janelas da Câmara Municipal, foi confiado a Teófilo Braga.



José Relvas proclama a República das janelas dos Paços do Concelho